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Mulheres dominam Jabuti; Luiza Romão e Micheliny Verunschk são vencedoras

Realizada na noite desta quinta-feira (24), a 64ª edição do prêmio Jabuti foi marcada pela vitória de mulheres nas suas principais categorias. A atriz, poeta e slammer paulista Luiza Romão levou os troféus de melhor livro do ano e melhor obra de poesia com "Também Guardamos Pedras Aqui", editado pela Nós.
Romão nasceu, em 1992, no interior de São Paulo, na cidade de Ribeirão Preto. A poeta, que não compareceu à cerimônia, também é autora de "Sangria" (2017) e "Coquetel motolove" (2014), livros publicados pelo selo doburro.
O Jabuti, principal prêmio da literatura brasileira, consagrou ainda a carioca Eliana Alves Cruz, na categoria contos, e a pernambucana Micheliny Verunschk, na categoria romance literário, uma das mais aguardadas da cerimônia. Para Ecoa, Micheliny escreveu um perfil da artista Célia Tupinambá, parte do especial "Brasil que dá certo".
Antes de Verunschk, as últimas premiações da categoria romance literário tinham ficado com o colunista do Uol Jeferson Tenório (2021) e com Itamar Vieira Jr. (2020), autor de "Torto Arado".
As categorias infantil e juvenil também foram vencidas por mulheres, as autoras Silvana Tavano (em parceria com Daniel Kondo) e Ana Elisa Ribeiro, respectivamente. Já a categoria "fomento à leitura" ficou com a ONG Vaga-Lume, destaque na seção Causadores, de Ecoa. "Literatura, no meu entender, é um direito porque ela é tão importante quanto comida e água. Ela é vital ainda mais no mundo de hoje, em que a gente está nomeando pouco porque nos comunicamos por emoji, estamos diminuindo a nossa relação com as palavras.", afirmou a fundadora do Vaga-Lume Sylvia Guimarães em reportagem do UOL.
"A onça tem jabuti"
"O som do rugido da onça", livro vencedor da categoria romance literário, conta o sequestro de duas crianças indígenas - batizadas no livro de de Iñe-e e Juri - por dois renomados cientistas alemães do século XIX: Spix e Martius.
É um romance que nos leva à alteridade. Nos leva a entrar na cabeça da menina tomada de sua família e do seu lar pela "civilização" branca. Mas não só. Conectando o sequestro de Iñe-e com as notícias dos massacres atuais, Verunschk mostra o quanto seguimos neste apartheid invisível, onde o "rei-racismo" está nu, mas ninguém da branquitude tem a coragem de enxergá-lo.
Parte do romance é narrado pela grande onça Tipai uu. "O 'eu animal' sempre me interessou, como história de vida, mas só vim compreender melhor isso quando comecei a ler o [antropólogo brasileiro] Viveiros de Castro. Porque sempre teve muita coisa do 'bicho que fala' na minha família, 'do tempo em que os bichos falavam', uma coisa que vinha dos meus avós, dois ótimos contadores de histórias", afirmou Verunschk a esta coluna. Em suas redes sociais, Verunschk, que foi à cerimônia acompanhada da filha, comemorou o prêmio: "A onça tem jabuti".
Confira os principais ganhadores da 64ª edição do prêmio Jabuti
Livro do ano
Título: Também guardamos pedras aqui | Autor(a): Luiza Romão | Editora(s): Nós