Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Pílulas do Dia Seguinte: foco foi o grande atributo de Verstappen

Comecei o dia indo olhar os jornais holandeses. Um misto de mania, curiosidade, dever profissional e inveja. O dia seguinte a uma conquista deste tamanho, histórica e inédita, traz sempre registros que merecem ser guardados. O "De Volkskrant" saiu com uma manchete correta, mas burocrática: "Vitória apertada, mas grandiosa". O "De Telegraaf", que investiu na cobertura de F-1 nesta temporada, veio com "SuperMax", páginas e mais páginas dedicadas à conquista e um pôster no final. Mas gostei mais da chamada do pequeno "Trouw", certeira e com um quê de poesia: "Os olhos permaneceram focados na linha de chegada";
Foco. Talvez tenha sido esse o grande atributo de Verstappen na temporada. O holandês tinha um objetivo e não deixou que nada atravessasse a sua frente. Literalmente, como Hamilton sentiu tantas vezes: Imola, Barcelona, Monza, Interlagos, Jeddah. O mais novo campeão da F-1 podia estar fervendo por dentro, mas não transparecia. Há 262 dias, Verstappen tinha um objetivo claro quando entrou no carro da Red Bull para o primeiro treino livre do GP do Bahrein. Hoje deve ter acordado de ressaca, mas certamente com sentimento de dever cumprido. Ele foi, viu e venceu. Com foco, sempre com muito foco;
O que mais o novo campeão tem? Um talento excepcional. É muito difícil ver piloto elogiar piloto. Mas muitos com quem eu conversei durante o ano elogiaram sua habilidade, sua precisão nos movimentos, sua capacidade de responder às estratégias da equipe e fazer os resultados acontecerem. E não podemos esquecer que ele tem só 24 anos. Hamilton deve parar no fim de 2023, quando acaba o contrato atual com a Mercedes. Se ninguém da nova geração (Norris, Leclerc, Russell, Gasly...) se imp, Verstappen terá caminho livre para enfileirar títulos. Provavelmente veremos um novo período de domínio na F-1;
Ao longo da história, 16 pilotos holandeses correram na F-1. Quando comecei a cobrir a categoria, havia um: Jos Verstappen. Não era o cara mais simpático do paddock. Já estava na Arrows, meio em fim de carreira, não tinha paciência para muita coisa. Além disso, nos últimos anos pipocaram histórias sobre suas relações familiares e a maneira como sempre pressionou o filho a buscar resultados. Ruim. Mas não dá para não se emocionar com a foto abaixo, uma das mais lindas que encontrei da comemoração do título em Abu Dhabi;
E o outro lado? A Inglaterra amanheceu com os jornais em fúria, falando em roubo e acusando a FIA de manipular o resultado. Choro de perdedor. Podemos discutir a decisão da direção de prova, mas não foi a primeira polêmica do ano. Mais: durante toda a temporada, as decisões dos comissários penderam mais para favorecer Hamilton do que o contrário. Enfim, não é nada que surpreenda. A imprensa inglesa, inclusive a que cobre F-1, é historicamente parcial e gosta de inflamar as polêmicas para vender mais tabloides e atrair mais cliques. Não seria diferente agora;
Para apimentar ainda mais o tópico acima, surgiu uma mensagem de Hamilton que não foi exibida pela transmissão do GP. Faltando quatro curvas para o final, quando a vaca já tinha ido pro brejo, o inglês apertou o botão do rádio uma última vez na temporada. "Isso foi manipulado, cara", disse para Peter Bonnington, o Bono, seu engenheiro. Quem acompanhava a corrida pela câmera onboard do heptacampeão no app da F-1 ouviu. Hamilton então não falou mais nada. Estacionou no parque fechado, ficou ali sozinho por dois minutos, concedeu a entrevista protocolar para Button e sumiu. Compreensível;
Como escrevi no blog ontem, era de se esperar que a Mercedes entrasse com uma "intenção de apelo" junto à FIA. O time tem agora 96 horas para decidir se realmente vai recorrer do resultado do GP e, consequentemente, da conclusão da temporada. O prazo se esgota na tarde de quinta-feira. Até lá, certamente haverá muitas reuniões envolvendo advogados, executivos, acionistas, gestores de crise;
Há muito mais em jogo do que o Mundial de Pilotos. Há os valores de uma marca. A Mercedes venceu tudo nos últimos sete anos, dominou as disputas de pilotos e equipes, reinou absoluta. Qual mensagem a marca transmitiria levando sua primeira derrota em anos para os tribunais? Já não estamos mais falando de nomes como Wolff e Shovlin. O buraco é mais embaixo e as decisões estão mais pra cima. Trata-se de uma das maiores montadoras do mundo e que, antes de tudo, vê a F-1 como uma plataforma de marketing. Ir em frente com o recurso seria um bom marketing? Não me parece o caso;
No meio disso tudo está Michael Masi, o diretor de provas da FIA. Como também escrevi ontem, entendo que todas as decisões que ele tomou foram em nome do esporte, de deixar a disputa acontecer. Mas há um precedente que complica sua defesa e que provavelmente ele terá de explicar para seus chefes: Baku. O cenário daquele GP do Azerbaijão, em junho, foi muito parecido com o de Abu Dhabi: batida a seis voltas do final. Mas o modo de agir foi bem diferente. A FIA acionou bandeira vermelha, suspendeu a corrida e, após 30 minutos de interrupção, fez uma nova relargada com os carros no grid. Se a ideia ontem era deixar a corrida acontecer, a solução usada em Baku parece muito melhor. Por que não foi usada?
Por fim, há a Liberty, dona da F-1. Os americanos não devem ter gostado do que viram, uma festa eclipsada por protestos e discussões sobre complicados artigos do regulamento. Masi talvez não esteja no mesmo cargo daqui a 95 dias, quando começa a próxima temporada;
Foi tanta confusão que mal falamos do resultado do GP e suas outras implicações...
Foi hat trick de Verstappen: pole, melhor volta e vitória. Foi apenas o terceiro da sua carreira, todos conquistados neste ano. Outro resultado importante foi o terceiro lugar de Sainz, que o colocou em quinto no Mundial, duas posições à frente de Leclerc. É um abalo nas estruturas ferraristas. Entre os Construtores, a Mercedes sacramentou seu oitavo título, igualando a McLaren. Está agora só atrás de Ferrari (16) e Williams (9). As tabelas finais do Mundial estão abaixo...
Acabou? Não! Nesta terça já tem testes em Abu Dhabi, com atrações como Bottas na Alfa Romeo, Pietro na Haas, Shwartzman na Ferrari e a estreia das rodas de 18 polegadas. Fique ligado por aqui.
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