'Meu pai herdou estigma sobre goleiros negros', diz jurista Silvio Almeida

O jurista e filósofo Sílvio Almeida falou sobre o racismo no futebol, em entrevista ao Troca de es, do SporTV, hoje. Para sustentar seu argumento de que o futebol pode ser uma arma antirracista, ao mesmo tempo em que é atravessado por uma estrutura racista, o professor de Direito falou sobre a trajetória de seu pai, o ex-goleiro Barbosinha, que defendeu o Corinthians na década de 1960.
"O futebol é uma coisa contraditória e complexa. No futebol, você tem forças e energias fundamentais para a luta antirracista. Se não fosse o futebol, eu não estaria aqui. Eu sou um professor de Direito, mas o futebol permitiu que meu pai construísse algo para me dar possibilidades de estudar. Ao mesmo tempo, o futebol é atravessado pelo que tem de pior na sociedade, como o racismo. Por que meu pai teve o apelido de 'Barbosinha' - por causa do goleiro da seleção, o Barbosa. E eu notei que o apelido do meu pai era por conta de eles serem negros. E meu pai não herdou apenas o apelido, mas o estigma sobre os goleiros negros", comentou Almeida.
O autor do livro "Racismo Estrutural" seguiu com seu raciocínio: "o que o racismo produz sobre o corpo negro? Produz a ideia de que quem produz racionalidade e merece confiança são os brancos. Então, goleiros, dirigentes e treinadores são cargos de confiança, por isso há poucos negros nessas posições".
"Vejam como o futebol trata a questão racial. Vejam como é permitido no futebol o livre mercado do ódio. Parece que as pessoas vão ao estádio com e livre para ofender racialmente trabalhadores. Há uma espécie de pacto silencioso para que no futebol as ofensas raciais sejam absorvidas. A imprensa esportiva também absorve e difunde o racismo no futebol", acrescentou.
Almeida ainda falou sobre como é impossível desvincular esporte de política, economia e da sociedade como um todo. A partir deste argumento, o jurista afirmou que as manifestações antirracistas de esportistas têm se tornado mais comuns por estarem crescendo na sociedade.
"Futebol não é só futebol. Futebol é política. Futebol é economia também. Não dá para imaginar transformações sociais que não afetem o futebol. A manifestação dos jogadores é por algo que arrebentou no mundo. Alguma coisa está muito diferente. A questão racial ganhou uma urgência. (...) Todos se sentem responsáveis por fazer algo. O futebol não é istrado de maneira democrática. Veja as posturas da Fifa em relação a manifestações políticas dentro do futebol. Os jogadores negros am por racismo na sociedade, que depois cobra que eles tenham posições políticas sobre questões complexas que a maioria das pessoas não sabe falar a respeito", complementou.
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