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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Toda reverência a Elza Soares é pouca diante de tanto que o mundo lhe tirou

A cantora Elza Soares  - Jack Vartoogian/Getty Images
A cantora Elza Soares Imagem: Jack Vartoogian/Getty Images
Joice Berth

Colaboração para Universa

21/01/2022 08h12

"Se acaso você chegasse
No meu chateau encontrasse
Aquela mulher que um dia você gostou
Será que tinha coragem de trocar a nossa velha amizade
Por ela que já lhe abandonou"

Foi com esses versos do sucesso "Se acaso você chegasse", composição de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins para o disco homônimo, lançado pela Gravadora Odeon em 1960 (primeiro de sua riquíssima carreira!), que conheci a voz de veludo rebelde, que escorrega meio sexy e meio chique pelos ouvidos dos que apreciam música de verdade.

A dona da voz?

"Uma mulher forte, que enfrentou o mundo, por amor e por respeito. E bonita a filha da mãe, viu?!"

Essa era a definição que as mulheres da minha família, negras, é preciso enfatizar, tinham na ponta da língua toda vez que Elza Soares pintava no pedaço.

E ela pintava muitas vezes, não só como talento musical insubstituível e inconfundível que foi, mas também como símbolo de mulher tinhosa, braba.

Minha avó materna, que por proximidade de histórias de vida, se identificava muito com a personalidade de Elza, fez dela meio que um espelho onde olhava e se lembrava que mesmo com o mundo contra mulheres negras, podemos resistir. A tal da representatividade, né? Resistir podemos, mas, e existir?

A história de vida da gigante Elza Soares sempre me deixou uma pergunta entalada na garganta: resistir custa quanto?

Garrincha e Elza Soares em 1970, na Itália - Keystone-/GettyImages - Keystone-/GettyImages
Garrincha e Elza Soares em 1970, na Itália
Imagem: Keystone-/GettyImages

O sofrimento na vida de Elza Soares foi proporcional ao seu talento: imensurável. Sobre ela recaiu o peso do estereótipo da "fogosa" ou "lasciva" que toda mulher negra conhece desde cedo. Cedo como o primeiro casamento de Elza, aos 12 anos de idade. Cedo como as impressões influenciadas pela cor de sua pele, que fez com que ao assumir o romance com o falecido atleta Mané Garrincha, fosse humilhada e discriminada.

Também teve que lidar com o estereótipo de "dura na queda" ou da "que aguenta tudo", igualmente conhecido por toda e qualquer mulher, especificamente as negras. Esse estereótipo que faz com que mulheres negras jamais sejam amparadas e consoladas nas suas diversas dores. Diversas dores é a síntese da maior parte da vida de Elza, com perdas devastadoras, de filhos, mãe, maridos. A dor da violência doméstica, da fome, do abandono, do julgamento popular injusto. A dor do ostracismo e do silenciamento que lhe foi imposto em certo momento de sua carreira, e que foi finalizado pelo grande Caetano Veloso, já na década de 1980.

O mundo não poderia ter, pelo menos, aliviado todo esse sofrimento? Não poderia ter ao menos amenizado essas dores? Poderia, mas não quis. O racismo, aliado ao machismo e a preconceitos tão diversos quanto as qualidades humanas de Elza, não permitiu. Ao contrário, intensificou. Por isso, não cabe tratar a história de Elza como uma história de "superação".

Precisamos falar em "desumanização". Falar em superação é romantizar tragédias cortantes e se isentar da responsabilidade social para com a vida de mulheres, especialmente as negras, que estão na base da pirâmide social. Poderíamos ficar apenas desfrutando da glória humana que Elza foi. Já é tempo de romper com o vício social (e traço de sadismo) por histórias de superação que mascaram violências terríveis.

Apesar de todo peso do mundo que Elza, sem ter tido qualquer outra escolha, foi obrigada a ar, quase sempre sozinha, sua vida teve um lado que todos conhecemos: o da glória. Gloriosa Elza. Glamourosa Elza. Altiva Elza. É essa mistura de dores profundas e injustas com uma força descomunal, construída racionalmente para não se deixar vencer, que fez de Elza Soares o exemplo tão potente de existência humana.

Graças a Elza, sabemos, todas nós, negras, brancas, indígenas, LGBTQIA+, pobres, ricas, idosas, jovens, etc., que podemos construir uma força descomunal, mas não devemos. Elza jamais incentivou a normalização do sofrimento feminino. Muito pelo contrário. Gritou na contemporaneidade:

"Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim."

Mas é graças a Elza, também, que sabemos que o mundo não é justo conosco, assim como jamais foi com ela. Sabemos, pela história de Elza, que tudo que ofertamos para a sociedade não nos retorna, especialmente quando somos negras, pobres, periféricas.

Elza deu amor, força, beleza, talento, alegria contagiante (que abafava as dores de feridas latentes). E o que recebeu em troca?

Apesar de ter sido reverenciada, especialmente nas últimas décadas de sua vida, reconhecida como "cantora do milênio" pela BBC britânica, entre outras honrarias sinceras e merecidas, diante de tanto que o mundo lhe tirou, isso é pouco, mesmo recebido de bom grado pela humildade tocante de uma das maiores mulheres de todos os tempos, do mundo todo.

Se Elza Soares é a Mulher do fim do mundo, que seja então, desse mundo que não foi gentil, tampouco justo e amoroso com ela. Gosto de pensar na gloriosa Elza como a mulher que finalizou um mundo que é um fardo para todas nós.

Joice Berth é escritora e urbanista