"Vivo relacionamento abusivo, mas, por vergonha, nunca contei para ninguém"

A jornalista Marina Souza (cujo nome foi alterado para sua própria segurança) vive um relacionamento abusivo há quatro anos. Hoje, longe dele, ela tenta evitar a tentação de responder as mensagens que ele manda e acredita que pode sair disso sem envolver a polícia. Abaixo, trechos de sua história.
"Eu o conheci num restaurante, há quatro anos. Achei que ele me convidaria para dormir com ele – e eu recusaria. Mas mesmo meio bêbado, ele foi um gentleman: abriu a porta do taxi para mim, pediu meu telefone e me mandou pra casa. Depois de 30 minutos, meu celular tocou com uma mensagem romântica. Eu pensei: conheci O cara. De manhã, um doce “bom dia”. Pela tarde, “aproveite seu almoço”. Ao entardecer, “como foi o dia no trabalho”. Apesar de eu ter meu próprio apartamento, a casa dele parecia tão acolhedora. O carinho só crescia – ele cozinhava, limpava, arrumava.
Tomei um golpe da vida
Decidi me mudar com uma amiga para um apartamento menor – já que mal ficava no meu. Assinei o contrato, paguei todas as taxas. Ela acompanhava o desenrolar da minha relação e não gostava da velocidade das coisas, mas sabia que não podia falar nada. Eu não queria sequer ouvir. Acontece que ela desistiu do negócio, incomodada com meu namoro. E, quando fui pedir ajuda para ele, a máscara caiu.
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Estava deprimida, buscando uma solução para fazer a mudança e bancar o lugar sozinha – e queria, na verdade, que ele me chamasse para morar com ele. Ele cansado, com todo o poder de um tirano. As humilhações começaram, porque ele sabia que estava dominando. A essa altura, já tinha me afastado dos amigos e vivia só para ele. No dia da mudança, a primeira agressão clara: ele de ressaca, acordou reclamando que teria que me ajudar. Eu chorei de medo. “Nossa, que saco, você é muito depressiva”. Durante a mudança, jogava minhas malas e caixas como se fossem lixo. Acabou perdendo a chave do carro. Gritou, xingou e disse que eu era imprestável.
Eu fingia não ver
Naquele momento, ainda tinha um pouco de força e respondi de volta: “eu não preciso de você!” Entrei na minha nova casa, fiz algumas ligações e, em menos de vinte minutos, amigos vieram me ajudar. Ele espionava de fora e voltou com a postura de príncipe: pediu desculpas, disse que estava com a cabeça quente e que eu era o amor da vida dele. Engoli os meus sentimentos e perdoei. Ele me ajudou com o resto com a mesma má vontade, mas eu fingi não ver. E assim foram os próximos meses: brigas horrorosas, gritos, xingamentos. Quando eu estava pronta pra partir, ele voltava, pedia perdão e eu desculpava. Era uma dança com meus sentimentos, que me deixava confusa e me fazia acreditar que eu era a louca da história. Para não ser julgada, mantinha muitos detalhes de fora quando contava para minhas amigas. Afinal, aprendi em briga de marido e mulher ninguém mete a colher.
Drogas sempre foram um tabu
No começo do namoro, ele me disse que sempre usou cocaína, mas que desde que me conheceu tinha perdido a vontade de usar. Só descobri que ele estava mentindo muitos meses depois, em uma viagem com amigos. Eles ficaram surpresos que eu não soubesse que ele ainda era viciado. Ele já tinha tomado cerveja o suficiente para achar que eu estava me insinuando para um amigo dele. Me puxava de canto e falava coisas horríveis – eu era puta, não tinha senso, era inconveniente, que as minhas atitudes o envergonhavam. Cansada daquela tortura, pedi ajuda aos amigos dele. Ninguém fez nada. Então, decidi pedir desculpa para todos por algo que eu não fiz, mas exigia saber a verdade: “você continua cheirando cocaína">var Collection = { "path" : "commons.uol.com.br/monaco/export/api.uol.com.br/collection/universa/transforma/violencia-contra-a-mulher/data.json", "channel" : "transforma", "central" : "universa", "titulo" : "Violência contra a mulher", "search" : {"tags":"78758"} };