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Mulheres trans podem, sim, amamentar: 'Capazes de tudo'

Luiza Souto

De Universa, no Rio de Janeiro

10/06/2022 04h00

A tatuadora e criadora de conteúdo digital Erika Fernandes, de 28 anos, sempre quis ser mãe. Tanto que saiu da maternidade em São Paulo, no último 10 de maio, com Noah nos braços já pensando no próximo filho. E apesar do cansaço vivido nos primeiros dias de vida da criança, só o fato de ela poder amamentar já vale qualquer falta de uma noite bem dormida.

Erika é uma mulher trans, ou seja, se adequou ao gênero com o qual se identifica, contrário ao do registrado na certidão de nascimento.

Noah é fruto de seu relacionamento com Roberto Bete, um homem trans que gestou o bebê. Como ele retirou as mamas durante seu processo de transição de gênero, Erika ou pela indução da lactação quando seu companheiro estava entrando no quarto mês de gravidez.

"Quando a gente planejou essa gestação, fiquei muito preocupada com a alimentação dele. Fui pesquisar e descobri ser possível mulheres trans amamentarem. Tanto que no início da minha transição eu me entupi de hormônio, sem acompanhamento, e acabei produzindo leite", ela conta. O casal é tema de documentário produzido pelo UOL.

O casal trans Erika e Roberto com o filho Noah - Thais Alvares/Divulgação - Thais Alvares/Divulgação
O casal trans Erika e Roberto com o filho Noah
Imagem: Thais Alvares/Divulgação

"Errado pensar que é bomba de hormônio"

Foram a fonoaudióloga e consultora de lactação Kely Carvalho e a ginecologista e obstetra Ana Thais Vargas que ajudaram o casal nesse processo. Elas já atenderam outras mulheres trans.

As especialistas explicam que Erika ou pelo mesmo procedimento que qualquer outra mulher que por algum motivo não conseguiu produzir leite suficiente na gravidez ou que não gestou, mas deseja amamentar.

"Existe um remédio para o estômago que tem, como efeito colateral, o aumento da produção de prolactina (hormônio diretamente relacionado ao aleitamento). E junto com a estimulação da mama com a bomba de sucção vamos adaptando o processo de acordo com a pessoa", Ana Thais descreve.

"Então, essa ideia de que o leite é uma bomba de hormônio é muito errônea e de quem não sabe nada sobre o protocolo. Não estamos colocando hormônio para que ela produza leite. Estamos estimulando o próprio corpo a produzir o seu próprio leite", complementa Ana Thais.

A única diferença entre o leite de quem engravida e o de quem não gesta é a presença de colostro, o primeiro leite a sair nos cinco dias pós-parto, e que é rico em anticorpos para proteger o bebê. Mas após esse período, o chamado leite maduro, também rico em proteína, é o mesmo nas duas situações. E a falta do colostro não prejudica em nada o desenvolvimento da criança.

"Esse tratamento foi inventado para mulheres cis (cisgênero, que se identifica com o seu gênero biológico) que não produzem o leite ou que adotam. Agora que é feito por mulheres trans a sociedade quer restringir? A gente é capaz de todas as coisas que uma pessoa cis", observa Erika após citar ataques que vem recebendo nas redes sociais.

Não há protocolo para homem cis ar por indução

Foi em 2018 que o Centro de Medicina e Cirurgia para Transgêneros do Hospital Mount Sinai, em Nova York, nos EUA, publicou o primeiro caso de uma mulher trans, de 30 anos, que amamentou. Ela produzia cerca de 240ml de leite ao dia e seu bebê foi alimentado, exclusivamente com seu leite, por seis semanas.

"E esse bebê cresceu, se desenvolveu, estava saudável por seis semanas. Não tem como um bebê saudável crescer, engordar, fazer coco, xixi se aquilo for uma bomba de hormônios", frisa Kely Carvalho.

Isso significa que um homem cis pode amamentar? "Não", enfatiza Ana Thais. Ela explica que para a indução do leite é preciso fazer o bloqueio da testosterona, que atua diretamente em diversas ações do corpo considerado masculino como testículos e próstata, e introdução de estrogênio e da progesterona, hormônios ligados à reprodução humana e também a características consideradas femininas como seios maiores e quadris mais largos. Por isso há hoje na medicina um protocolo apenas para mulheres trans arem por esse processo. "A gente entraria numa questão que não é ética", avisa.

"Quis encontrar essa conexão de mãe e filho"

Mas quem não conseguir produzir o leite, mesmo com o estímulo, há ainda a translactação, quando uma sonda é colocada ao lado do bico do peito, e com uma seringa ela conduz o leite —de fórmula ou doado— até a boca da criança. Ou seja: ela pegará no peito do mesmo jeito.

"Quer dizer que isso não é amamentação? Amamentação é se relacionar através do peito", ensina Kely.

Foi o que Erika fez. Com dificuldade de amamentar, e sob forte estresse e cansaço, seu leite secou no segundo dia de Noah, e precisou fazer a translactação, também chamada relactação. Foram cinco dias nesse processo até que a sucção da criança ajudou o leite a voltar, mas ela incluiu a fórmula para complementar a alimentação do bebê.

Como não gestei, quis encontrar essa conexão de mãe e filho, sentir seu toque, trocar olhares. Na primeira mamada chorei tanto, porque ele me olhou no olho, me reconheceu como mãe, como a fonte de nutriente dele, a proteção dele.

Terapeuta de 32 anos, uma travesti não-binária, deu o peito pela primeira vez à filha logo após o seu nascimento - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Terapeuta de 32 anos, uma travesti não-binária, deu o peito pela primeira vez à filha logo após o seu nascimento
Imagem: Arquivo pessoal

"Se eu posso tentar, por mim e por ela, por que não?"

A terapeuta *Camila, de 32, quase não consegue explicar o que sentiu quando deu o peito pela primeira vez à Amanda*, hoje com 10 meses. Moradora do sul da Bahia, ela amamentou junto com a companheira por três meses e meio. Camila, que prefere não revelar o nome para preservar a família, se identifica como uma travesti não-binária, ou seja, não se limita às categorias "masculino" ou "feminino".

"Minha filha nasceu e já foi para o peito da outra mãe, e depois veio para o meu colo. Mamou e dormiu. Foi muito emocionante. E ainda é. Até hoje ela pega no meu peito, e sinto saudade de amamentar", diz, emocionada na chamada de vídeo.

Isso porque Camila nem sonhava em ser mãe. Muito menos a companheira, que já tem três filhos, de 10, 9 e 4 anos. Mas assim quis o destino, e ao embarcar nesta aventura, Camila escolheu dividir toda a responsabilidade do cuidado com a filha, incluindo a amamentação.

"Se eu posso tentar, por mim e por ela, por que não? E agradeço muito por ter feito essa jornada. Se fôssemos uma sociedade que estivesse trabalhando para buscar igualdade de oportunidade de cuidado, a gente incentivaria os homens cis a amamentarem", ela atenta.

Sem querer romantizar a amamentação, Camila conta que o processo desde a indução foi fácil. Ela já estava fazendo a terapia hormonal para bloquear a testosterona e tomando o estradiol, conhecido como hormônio feminino, havia pouco mais de um ano. E após um mês usando a bombinha com um remédio para o estômago, já estava produzindo entre 50 ml e 100 ml de leite.

E para quem não consegue produzir o leite, ela aponta outras formas de conexão:

"Não precisa induzir a lactação para amamentar. Dá para fazer com bico de silicone, com sonda. A conexão não precisa ser pelo peito. Há vários jeitos de participar do processo", conclui.