Que país lidera a transição energética no mundo?

A transição energética é o processo de mudança da forma como produzimos e consumimos energia. O conceito não é novo: as transições energéticas acompanham a evolução da civilização, marcadas por mudanças nos padrões de formas e usos da energia, incluindo solar, hídrica, biomassa e eólica.
Atualmente, há um movimento de retorno ao uso de fontes de energia com menores índices de emissões de gases de efeito estufa (GEE), principalmente por meio da substituição progressiva dos combustíveis fósseis.
Com o Acordo de Paris, firmado em 2015, estabeleceram-se metas para limitar o aumento da temperatura global a, no máximo, 2ºC, sendo o ideal a 1,5ºC abaixo dos níveis pré-industriais.
Nesse contexto, as energias renováveis e a eficiência energética ganharam protagonismo no cenário mundial, impulsionando a atual transição energética.
Não há somente um país liderando essa transição, mas vários - embora existam indicadores e estudos que avaliem o progresso em direção a uma economia de baixo carbono, não há um ranking absoluto de todas as nações.
Veja, abaixo, mais detalhes:
Que países se destacam na transição energética?
Os países nórdicos, entre eles, Dinamarca, Islândia e Noruega.
A Dinamarca é pioneira no uso de energia eólica (vento). Uma parcela significativa de sua eletricidade é gerada por turbinas eólicas, tanto na terra (onshore) quanto em alto mar (offshore).
O país também tem avançado na transformação do lixo orgânico em hidrogênio, que é utilizado como combustível para ônibus no transporte urbano.
Além disso, a Dinamarca tem promovido bastante a conscientização da população, complementando assim as medidas istrativas para a transição energética.
A Islândia possui quase 100% de sua eletricidade proveniente de fontes renováveis, principalmente geotérmica (uso do calor proveniente do interior da Terra para gerar eletricidade ou aquecimento) e hidrelétrica.
A Noruega, por sua vez, lidera na adoção de veículos elétricos, oferecendo incentivos fiscais e investindo em infraestrutura de carregamento. O país exporta tecnologia e know-how em energia renovável para outros países. Saiba como estão os esforços de outras nações na direção da transição energética.
E os países que mais emitem GEE, como estão em relação à transição?
Entre os países que mais emitem GEE (gases de efeito estufa), China e Estados Unidos têm se destacado como líderes na transição energética devido a uma combinação de políticas governamentais eficazes, inovações tecnológicas e investimentos significativos em energias renováveis, além de um fator crucial: a escala de produção e consumo desses países.
Cada um deles adotou estratégias específicas, adaptadas às suas realidades econômicas e geopolíticas, para impulsionar a descarbonização e a sustentabilidade energética.
A China investiu em tecnologias de energia renovável, como solar e eólica, e atualmente possui a maior capacidade instalada global dessas fontes. Em 2023, foi o país que mais investiu em energias renováveis, atingindo US$ 676 bilhões, o que corresponde a 38% do total global.
Além disso, a China é a maior fabricante mundial de veículos elétricos e baterias de íons de lítio, demonstrando seu compromisso com a inovação tecnológica.
A escala de produção chinesa permite ganhos de economia que resultam em preços finais competitivos, fortalecendo sua posição no mercado global. O país também planeja aumentar significativamente sua capacidade instalada de energias renováveis, visando reduzir o consumo de carvão e transformar sua economia.
Os Estados Unidos, por sua vez, são um dos líderes em pesquisa e desenvolvimento no setor de energias renováveis, com foco em energia solar, eólica e biocombustíveis. Além disso, a escala do mercado americano estimula a inovação e a comercialização de novas tecnologias na vanguarda do desenvolvimento de soluções sustentáveis.
No entanto, as mudanças na istração federal podem impactar a liderança do país nesse processo. A continuidade dos avanços dependerá do comprometimento da sociedade civil, do setor privado e dos governos estaduais.
Qual é o papel do Brasil?
Nosso país tem potencial para liderar a transição energética global. Com recursos naturais abundantes, como água, sol, vento e espaço físico, o Brasil possui 194 GW de geração de energia instalada, isto é, de usinas hidrelétricas, parques eólicos ou fotovoltaicos, já em funcionamento, segundo estudo de 2020 da Empresa de Pesquisa Energética. Desses 194 GW, 85% provêm de fontes convencionais (hidrelétrica e termelétrica) e 15% de fontes renováveis (solar e eólica).
Ainda de acordo com estudo da EPE (2020) e da ABEEólica (2022), o Brasil tem potencial de gerar energia eólica no mar (offshore) de 700 GW. Desse total, cerca de 160 GW já estão em processo de licenciamento ambiental no Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
Segundo o professor Ricardo Ribeiro, no cenário atual, os 194 GW já suprem o consumo de energia elétrica residencial, comercial e industrial com folga, portanto, a geração eólica offshore que será instalada terá um excedente que pode ser utilizado para outras finalidades, como a produção de hidrogênio verde.
O hidrogênio verde poderia suprir a demanda de energia de setores não eletrificados (ou seja, que não usam eletricidade como fonte de energia primária), como siderúrgicas, fábricas de fertilizantes e transportes de carga e de pessoas.
No mundo, essa já é uma tendência: alguns países europeus e da Escandinávia utilizam excedente de energia proveniente de renováveis para viabilizar a descarbonização e, consequentemente, a transição energética.
O que os governos podem fazer para acelerar a transição energética?
Uma das principais ações é a implementação de incentivos fiscais e financeiros para energias renováveis, como subsídios, isenções fiscais e linhas de crédito com juros reduzidos.
Por exemplo, programas que financiam a instalação de painéis solares em residências ou incentivam empresas a adotar tecnologias de baixo carbono podem impulsionar a expansão das renováveis e reduzir a dependência de combustíveis fósseis.
Esses mecanismos tornam os projetos de energia limpa mais viáveis e atraentes, reduzindo custos iniciais e riscos para investidores e consumidores.
Outra medida crucial é a criação de regulamentações e políticas de descarbonização, que estabelecem metas obrigatórias de redução de emissões e padrões de eficiência energética para setores como transporte, indústria e geração de energia.
Isso inclui a implementação de mercados de carbono, a promoção de veículos elétricos e a exigência de participação mínima de fontes renováveis na matriz energética.
Essas políticas criam um ambiente regulatório favorável à transição, incentivam a inovação tecnológica e garantem que os setores público e privado se alinhem aos objetivos climáticos nacionais e internacionais.
É essencial que os governos também considerem a justiça social e a inclusão, garantindo que os benefícios da transição sejam compartilhados por toda a sociedade.
O que as empresas podem fazer para acelerar a transição energética?
Uma das principais estratégias pode ser o investimento em autoprodução a partir de fontes de energia renováveis, permitindo que as organizações gerem sua própria eletricidade a partir de fontes como solar, eólica e biomassa ou adquiram energia limpa por meio de contratos de longo prazo.
Essa iniciativa reduz a dependência de combustíveis fósseis, diminui as emissões de gases de efeito estufa e pode gerar economia a longo prazo, além de impulsionar o mercado de energias renováveis.
Outra medida é a adoção de práticas de eficiência energética, com a modernização de equipamentos, uso de iluminação LED, otimização de processos industriais e implementação de sistemas de gestão energética. Essas medidas permitem a redução do consumo de energia, minimizam impactos ambientais e aumentam a competitividade das empresas ao diminuir custos operacionais.
Ao adotar essas iniciativas de forma estratégica, as empresas não apenas reduzem seus impactos ambientais, mas se destacam como líderes em sustentabilidade, atraindo investidores e consumidores conscientes.
A participação ativa do setor privado é essencial para impulsionar a transição energética e construir um futuro mais sustentável.
O que a sociedade civil pode fazer para acelerar a transição energética?
O papel da sociedade civil é promover padrões de consumo sustentáveis por meio da conscientização e educação. Isso envolve priorizar produtos recicláveis ou fabricados com materiais renováveis, além de fomentar modelos de consumo colaborativo, como o compartilhamento de produtos e serviços.
Essa mudança reduz a demanda por novos produtos, diminui a pressão sobre os recursos naturais e estimula a implementação de práticas de economia circular, que, por sua vez, maximiza o uso eficiente dos recursos por meio da reutilização, reciclagem e reparo.
Ao participar ativamente de iniciativas locais que promovem essas práticas e ao pressionar por políticas que incentivem a sustentabilidade, a sociedade civil contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa e para uma economia mais sustentável.
O envolvimento em iniciativas comunitárias voltadas para a energia renovável também é uma medida eficaz para acelerar a transição energética.
A promoção de projetos de geração distribuída, como instalações solares em comunidades de baixa renda, aumentam o o à energia limpa e capacitam os moradores com conhecimentos sobre sustentabilidade e eficiência energética.
Além disso, ações educativas que ensinem sobre as vantagens das energias renováveis e como implementá-las localmente podem fortalecer a autonomia das comunidades e garantir que elas se beneficiem diretamente da transição.
Fonte: Suani Teixeira Coelho, professora do IEE/USP (Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo), orientadora do Programa de Pós-Graduação em Energia e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Bioenergia do IEE/USP; Daniela Higgin Amaral, engenheira florestal, doutoranda no Programa de Pós-graduação em Energia no IEE/USP e pesquisadora no Grupo de Pesquisa em Bioenergia; Ricardo Lúcio de Araujo Ribeiro, doutor em engenharia elétrica na área de conversão de energia, professor titular do Departamento de Engenharia Elétrica e líder do Grupo de Transição Energética da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
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