Como norte-coreanos usavam 'fazenda de laptops' para trabalhar nos EUA
De Tilt, em São Paulo
29/05/2025 05h30
Salas com dezenas de laptops conectados à internet permitiam que funcionários norte-coreanos trabalhassem remotamente em empresas dos EUA. As informações são do jornal norte-americano Wall Street Journal.
O que aconteceu
Locais conhecidos como "fazendas" recebiam computadores de funcionários norte-coreanos remotos em empresas dos EUA. Lá, eles ficavam ligados e sendo ados por pessoas da Coreia do Norte. Em alguns casos, os computadores eram enviados para outro endereço, para não dar muito na cara, e enviados posteriormente para a fazenda.
FBI (Polícia Federal dos EUA) estima que trabalhadores remotos coletaram mais de US$ 17 milhões trabalhando para mais de 300 empresas do país. Prática é conhecida há alguns anos, mas a reportagem explica como funciona a estrutura que mantém esses profissionais trabalhando.
Espionagem, dinheiro para o regime e uso de novas tecnologias são vistos como principais motivos para a atividade. Empresas dos EUA e da Europa, sobretudo do ramo da tecnologia, começaram a ficar mais atentas com quem contratavam para vagas remotas.
FBI emitiu um alerta no início deste ano para tentativas de extorsão por falsos trabalhadores norte-coreanos. Órgão diz que profissionais quando são descobertos começam a extorquir empresas com dados roubados. Além disso, tentam copiar arquivos e credenciais das empresas. O FBI recomenda que empresas monitorem os e tente finalizar etapa de contratação em pessoa.
Como funciona a 'fazenda de laptops'
Uma ex-garçonete chamada Christina Chapman operava uma "fazenda" com mais de 90 laptops nos EUA. Ela começou o trabalho em 2020, mas sua casa foi alvo de um mandado de busca em outubro de 2023. Em alguns casos, ela enviava os computadores para uma cidade chinesa que faz fronteira com a Coreia do Norte. Como a dela, havia dezenas de outras fazendas espalhadas pelo país, segundo a reportagem
Christina saiu de um trailer em Minneapolis para uma casa de quatro quartos em Phoenix, no Arizona. Ela era responsável pela conexão à internet dos laptops, obtenção de documentos falsos e preenchimento de formulários fiscais dos trabalhadores. Além disso, recebia cheques e depositava em contas indicadas por eles - segundo documentos judiciais, ela ficava com uma quantia dos valores.
Táticas para se ar por americano envolviam uso de deepfake ou até a contratação de especialistas. Em entrevistas usavam inteligência artificial para cobrir rosto durante entrevistas de emprego. No entanto, com o tempo, diz a reportagem, recrutadores descobriram que pedir para a pessoa coloca a mão no rosto ajudava a "desmascarar" a farsa. Eles também contratavam profissionais de TI para se arem por eles ou roubavam a identidade de americanos.
A ex-garçonete mantinha uma página no TikTok e fazia viagens internacionais com o dinheiro que ganhava. Na rede social, inclusive, é possível ver em um vídeo os laptops que mantinha em sua casa. Ela viajou para o Canadá e para o Japão, onde foi assistir a shows de sua banda favorita.
Em outubro de 2023, o FBI invadiu a "fazenda" e apreendeu os computadores. Desde então, Christina tentou diferentes atividades, incluindo vender livros de colorir na Amazon, e em agosto de 2024 mudou-se para um abrigo no Arizona.
Christina se declarou culpada por fraude eletrônica, roubo de identidade e lavagem de dinheiro. Sua sentença deve sair em 16 de julho e ela pode pegar até nove anos de prisão.