Objeto estranho é visto na Via Láctea, e cientistas tentam entender o que é
Colaboração para Tilt*
30/05/2025 05h30
Uma equipe de astrônomos identificou um novo objeto misterioso na Via Láctea, a galáxia em que está o Sistema Solar. Nasa diz que a "estrela" tem características inéditas e pode indicar pistas sobre a origem de uma nova classe de objetos espaciais
O que aconteceu
Segundo os cientistas, identificar objeto estranho foi como "encontrar uma agulha em um palheiro". Segundo comunicado oficial divulgado pela agência espacial americana, os cientistas combinaram dados do Observatório de raios-X Chandra e do radiotelescópio SKA Pathfinder, localizado na Austrália, para estudar o objeto, que está a 15 mil anos-luz da Terra —um ano-luz é a distância que a luz percorre em um ano, ou seja, 9,5 trilhões de quilômetros.
O radiotelescópio tem um amplo campo de visão do céu noturno, enquanto o Chandra observa apenas uma fração dele. Portanto, foi uma sorte que o Chandra tenha observado a mesma área do céu noturno ao mesmo tempo [que o SKAP]. Ziteng "Andy" Wang, um dos pesquisadores envolvidos, ao portal do Centro Internacional de Pesquisa em Radioastronomia (ICRAR, em inglês)
O objeto recebeu o nome de ASKAP J1832-0911. Ele pertence a uma classe definida como "transientes de rádio de longo período" (LPT, na sigla em inglês). Os objetos dessa classe têm uma intensidade das ondas de rádio que varia regularmente ao longo de vários minutos. No caso do objeto descoberto recentemente, o ciclo de intensidade das ondas de rádio dura dois minutos e se repete a cada 44 minutos. De acordo com a Nasa, essa é a primeira vez que o sinal de raios-X é detectado em um transiente de rádio de longo período.
Lançado ao espaço pela Nasa em 1999, o Chandra é o telescópio de raios-X mais poderoso do mundo. "Sua resolução é oito vezes maior e ele consegue detectar fontes de luz 20 vezes mais fracas do que qualquer telescópio de raios-X anterior", diz a agência.
A partir dos dados do Chandra e do SKA Pathfinder, a equipe percebeu que o objeto emite raios-X e dispara ondas de rádio simultaneamente. Os cientistas identificaram, também, uma redução tanto nos raios-X quanto nas ondas de rádio ao longo de seis meses.
Essa combinação do ciclo de 44 minutos em raios-X e ondas de rádio, somada às mudanças que duram meses, é diferente de tudo o que os astrônomos já observaram na Via Láctea. Comunicado oficial da Nasa
Cientistas tentam entender o que é o objeto
O corpo celeste pode ser uma estrela, um par de estrelas ou, ainda, uma definição totalmente nova de objeto no espaço. Segundo os pesquisadores, é "improvável" que o ASKAP J1832 seja um pulsar —estrela de nêutrons em rotação que tem pulsos de radiação emitidos regularmente— ou uma estrela de nêutrons extraindo material de uma estrela companheira. "Algumas das propriedades do ASKAP J1832 poderiam ser explicadas por uma estrela de nêutrons com um campo magnético extremamente forte, chamada magnetar, com idade superior a meio milhão de anos", explica a Nasa. No entanto, outras características do objeto, como sua emissão de rádio brilhante e variável, não são comuns para um magnetar tão antigo.
As imagens sugerem que o ASKAP J1832 parece estar dentro do que seria o material remanescente de supernova —os restos de uma estrela que explodiu. Os cientistas, porém, acreditam que a proximidade entre o objeto e a supernova é provavelmente uma "coincidência", e que as duas estrelas não estão associadas entre si.
Os pesquisadores concluíram, ainda, que uma anã branca —estrela que já esgotou seu combustível nuclear e não se mantém luminosa por muito tempo— isolada não explica as características observadas. Excluindo essas possibilidades, os cientistas acreditam que a hipótese mais plausível é de que o ASKAP J1832 seja uma anã branca com uma estrela companheira. "Isso exigiria o campo magnético mais forte já conhecido para uma anã branca em nossa galáxia", pontua a Nasa. "Esta descoberta pode indicar um novo tipo de física ou novos modelos de evolução estelar", adiciona Wang.
A definição de objetos transientes de rádio de longo período é recente. A primeira detecção deste tipo de corpo celeste foi feita por pesquisadores do ICRAR em 2022. Desde então, dez LPT foram descobertos por astrônomos em todo o mundo. Até hoje, não há uma explicação clara para as características desse tipo de objeto, ou por que eles "ligam" e "desligam" em intervalos tão longos, regulares e incomuns. Com o novo estudo, os astrônomos buscam fornecer informações sobre essas fontes de sinais misteriosos observados no céu.
*Com informações da Reuters