Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Como os bons ouvintes ajudam o cérebro a funcionar em sua melhor forma

Encontrar um bom ouvinte é privilégio em um mundo de intenso vozerio. Todos acham que têm algo urgente a dizer, mas poucos aceitam escutar sem fazer julgamentos apressados. Qual o valor dos raros ouvidos atentos e solidários? Eles valem muito, segundo um estudo publicado nesta semana no Journal of the American Medical Association (JAMA) Network Open.
Contar com alguém disposto a ouvir nos momentos em que precisamos compartilhar sentimentos contribui para o aumento daquilo que os pesquisadores chamam de resiliência cognitiva.
Ela se refere à medida da capacidade do cérebro de funcionar melhor do que seria esperado em determinada fase de envelhecimento físico ou quando ele é acometido por alterações relacionadas a doenças.
Diferentes pesquisas sugerem que, ao aumentar a resiliência cognitiva, as redes de e social ajudam a reduzir o risco de Alzheimer e outros transtornos, mas faltam dados sobre o papel dos diferentes tipos de e social nessa relação. Ao destacar especificamente a contribuição dos bons ouvintes, o novo estudo amplia o conhecimento sobre esse tema.
"Pensamos na resiliência cognitiva como um amortecedor dos efeitos do envelhecimento do cérebro e das doenças", diz Joel Salinas, um dos autores do artigo e professor assistente de neurologia da Escola de Medicina da Universidade de Nova York.
"Esse estudo é mais uma evidência de que é possível agir para aumentar as chances de retardar o envelhecimento cognitivo ou prevenir o desenvolvimento de sintomas da doença de Alzheimer", afirma. Prevenção é sempre o melhor a fazer, mas ela se torna o único caminho em casos de um mal ainda sem cura.
Cuidar do futuro
Os benefícios da escuta atenta para a saúde do cérebro podem ser observados décadas antes da velhice. Segundo o estudo, para cada unidade de declínio no volume cerebral, indivíduos na faixa dos 40 e 50 anos com baixa disponibilidade de ouvintes apresentam uma idade cognitiva quatro anos superior.
"Esses quatro anos podem ser incrivelmente preciosos. Muitas vezes pensamos em como proteger a saúde do nosso cérebro na velhice, depois de termos perdido décadas nas quais teria seria possível construir e manter hábitos saudáveis", diz Salinas.
"Hoje mesmo você pode se perguntar se tem alguém disponível para ouvi-lo de forma solidária e perguntar o mesmo aos seus entes queridos. Essa ação simples coloca o processo em movimento para que você tenha mais chances de manter a saúde cerebral por mais tempo e com a melhor qualidade de vida que você pode ter", afirma o pesquisador.
Nem sempre os médicos perguntam aos pacientes se eles podem contar com alguém disposto a ouvi-los quando precisarem falar. Para Salinas, essa questão é importante para conhecer a história social do doente. "A solidão é um dos muitos sintomas da depressão e tem outras implicações para a saúde dos pacientes", diz ele.
Conhecer as relações sociais e os sentimentos das pessoas ajuda a entender as reais circunstâncias em que os pacientes vivem e obter pistas sobre sua saúde futura. Informações preciosas para os bons médicos.
A importância da escuta
Para realizar a pesquisa, os autores usaram informações coletadas durante o Framingham Heart Study (FHS), um dos mais longos e bem monitorados estudos já realizados nos Estados Unidos.
A partir dessa base, selecionaram dados de 2.171 participantes, com idade média de 63 anos, que haviam relatado o grau de e social em sua vida. Esse e social foi dividido em categorias como escuta; bons conselhos; amor e afeição; contato suficiente com pessoas próximas e apoio emocional.
A partir de exames de ressonância magnética e de avaliações neuropsicológicas feitas com os participantes do FHS, os pesquisadores avaliaram a resiliência cognitiva. Ela foi medida como o efeito relativo do volume cerebral total na cognição global.
Menores volumes cerebrais tendem a se associar a funções cognitivas mais baixas. Nesse estudo, os pesquisadores examinaram o efeito modificador de diferentes formas de e social na relação entre o volume cerebral e o desempenho cognitivo.
A função cognitiva dos indivíduos com maior disponibilidade de uma forma específica de e social (a escuta atenta) foi maior em relação ao seu volume cerebral total. Segundo os autores, ter bons ouvintes foi a característica que se mostrou altamente associada a uma maior resiliência cognitiva.
Nesse campo de estudo, falta entender muita coisa sobre a relação entre fatores psicossociais (como a disponibilidade de escuta atenta) e a saúde do cérebro, mas o trabalho de Salinas nos lembra do essencial: que tal cultivar bons ouvintes e bons ouvidos hoje mesmo?
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