Guilherme Cintra: 'Não precisamos do nosso cérebro trabalhando para tudo'
Colunistas de Tilt e Colaboração para Tilt
27/05/2025 05h30
(Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre tecnologia no podcast Deu Tilt. O programa vai ao ar às terças-feiras no YouTube do UOL, no Spotify, no Deezer e no Apple Podcasts. Nesta semana, o assunto é a entrevista com Guilherme Cintra, economista e diretor de Inovação e Tecnologia da Fundação Lemann. Ele fala sobre o papel da tecnologia na Educação, sobre o uso de Inteligência Artificial na sala de aula, e responde: a IA está nos deixando mais desatentos?)
Desde que entrou na moda, a Inteligência Artificial vem sendo usada para facilitar a vida de muita gente. Tem quem esteja usando o ChatGPT para resolver tarefas, planejar as férias e estudar. Mas a IA serve para tudo?
Guilherme Cintra, diretor de Inovação e Tecnologia da Fundação Lemann, aponta que utilizar a IA em tarefas simples pode ser positivo, mas não em todos os momentos. Em entrevista ao Deu Tilt, podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, ele afirma que vê com preocupação o uso indiscriminado da tecnologia para encurtar caminhos que nos levam à aquisição de habilidades importantes.
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A gente precisa ser capaz de raciocinar para não terceirizar completamente o conhecimento
Guilherme Cintra
Ainda que nossa visão de conhecimento seja enciclopédica, e que não seja necessário manter o cérebro trabalhando em máxima potência sempre, Guilherme acredita que é necessário entender e escolher o quê queremos abrir mão nessa jornada.
Rápido é diferente de bom. (...) Perder algo não necessariamente é ruim, se o que estou perdendo não tem valor nenhum. O problema é que quando eu perco o processo de raciocínio
Guilherme Cintra
Estudos recentes observam a eficácia na aquisição de conhecimento usando inteligência artificial. Um deles, realizado pela Microsoft em parceria com a Universidade Carnegie Mellon, de Pittsburgh (EUA), mostrou que a dependência da IA para a execução de tarefas pode "atrofiar" o cérebro e deteriorar faculdades cognitivas.
Uma das ironias da automação é que, ao fazê-la em tarefas rotineiras e deixar a resolução para o usuário humano, você priva o usuário das oportunidades cotidianas de praticar seu julgamento e fortalecer sua musculatura cognitiva. Isso te deixa atrofiado e despreparado para quando as exceções de fato surgem
Pesquisadores da Carnegie Mellon University
Cintra destaca que, além das perdas cognitivas, é preciso estar atento às habilidades relacionais, algo que também não deve ser terceirizado para a IA.
'IA reforça os vieses que já existem na internet'
Não é novidade que as inteligências artificiais possuem vieses, mas é injusto atribuir às ferramentas de IA a inauguração desse fenômeno. Para Guilherme Cintra, a IA apenas dá continuidade e reforça algo que já existia na internet.
Se você tem muito menos representatividade de determinados elementos culturais e sociais nas bases que treinam a inteligência artificial, você pode ter vieses embutidos e estereótipos reforçados dentro do próprio elemento cultural
Guilherme Cintra
'Na China, IA na educação não é novidade'
A meta da China é se tornar líder global em Inteligência Artificial até 2030. Para alcançar esse objetivo, o país liderado por Xi Jinping traçou um plano ambicioso que está sendo posto em prática desde 2017. As ações incluem tornar obrigatório o ensino de IA na educação básica.
A partir de 1º de setembro de 2025 - quando se inicia um novo período letivo no país -, estudantes de 6 a 15 anos terão pelo menos oito horas de aulas sobre IA por ano. Começando com uma proposta mais lúdica, à medida que os alunos avançam nas séries, os conteúdos se tornam mais complexos, envolvendo aprendizado de máquinas, robótica e questões éticas e sociais.
Essas discussões estão à luz de uma disputa geopolítica em torno da IA, mostrando que a educação é importante para esses países como parte de uma estratégia.
Guilherme Cintra
'Não faz sentido a tecnologia estar fora da escola'
A lei 15.100, promulgada em janeiro deste ano, restringiu a presença de dispositivos eletrônicos no ambiente escolar. Nas salas de aula, os celulares só poderão ser utilizados durante atividades pedagógicas. Guilherme Cintra, diretor de Tecnologia e Inovação na Fundação Lemann, avalia, contudo, que essa restrição deve vir acompanhada de uma reflexão maior sobre o uso da tecnologia na escola.
Eu sou a favor da proibição [do uso de smartphones] sem fins pedagógicos
Guilherme Cintra
Cintra faz distinções entre os desafios encontrados no uso de hardware - como o smartphone - e software - no caso, a Inteligência Artificial.
Não faz sentido a tecnologia estar fora da escola, pois ela está presente no dia a dia. Ninguém vive num mundo sem tecnologia
Guilherme Cintra
DEU TILT
Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.