Por que esferas gigantes podem ser lançadas ao mar - inclusive no Brasil
Colaboração para Tilt, em Belo Horizonte
03/06/2025 05h30
Cientistas alemães trabalham para desenvolver um novo sistema de geração de energia elétrica renovável explorando os oceanos.
Com enormes esferas ocas de concreto lançadas ao fundo do mar, o projeto StEnSea (sigla em inglês para Energia Armazenada no Mar), desenvolvido pelo instituto alemão Fraunhofer IEE, Pleuger e Sperra, quer revolucionar a produção sustentável de energia, inclusive nos mares brasileiros.
Como o sistema funciona
Esferas ocas de concreto, com cerca de 28,6 m de diâmetro, são lançadas à profundidade entre 600 e 800 m. Elas representam o tanque de armazenamento de água. Dentro, também há a unidade técnica, que contém uma bomba-turbina, válvulas controladas e os sistemas de monitoramento e controle necessários para o funcionamento do sistema.
Quando há baixa demanda de energia, a esfera é esvaziada. Isso cria um vácuo dentro do tanque, que a a armazenar energia na forma potencial.
Nos momentos de alta demanda, a água é liberada de volta para as esferas. Assim, as bombas am a funcionar como turbinas, girando pela entrada da água sob pressão, gerando eletricidade.
O sistema funciona de forma similar às usinas hidrelétricas, amplamente utilizadas aqui no Brasil. Ele foi adaptado ao ambiente submarino, buscando aproveitar a pressão do oceano para armazenar e liberar energia de forma eficiente.
A potência esperada de cada esfera é de 5 MW durante o processo de descarga, quando a água entra na esfera. Essa potência seria entregue continuamente durante cerca de 4 horas e meia, tempo necessário para que a esfera se encha de água.
Os pesquisadores identificaram potencial para a implantação dessa tecnologia no mundo todo, incluindo no litoral do Brasil, Noruega, Portugal, EUA e Japão. O sistema também poderia ser implementado em lagos profundos, sejam artificiais ou naturais, além de minas inundadas.
Por que importa?
O StEnSea promete ser uma solução que não polui o ambiente e não afeta a vida marinha. O sistema será escalável e eficiente, e o objetivo é reduzir a dependência de combustíveis fósseis.
Diferentemente das usinas hidrelétricas que conhecemos hoje, não será necessário inundar grandes regiões para a implementação. "O potencial de expansão [das usinas hidrelétricas] é severamente limitado em escala global. Por isso, estamos transferindo esse princípio funcional para o leito marinho - onde as restrições naturais e ecológicas são muito menores", afirmou o gerente sênior de projetos da Fraunhofer IEE, Dr. Bernhard Ernst.
O sistema que está sendo desenvolvido também não depende de metais raros, como o lítio ou o cobalto. A estimativa é que o ciclo completo do StEnSea tenha uma eficiência de 72%.
Próximos os
Entre 2013 a 2017, os cientistas do StEnSea criaram um protótipo em escala reduzida 1:10. O teste foi realizado com sucesso no Lago de Constança, na fronteira da Alemanha com a Áustria e a Suíça.
Agora, os pesquisadores querem criar um protótipo maior, com 10 metros de diâmetro. Para isso, o projeto recebeu financiamentos dos governos dos EUA (US$ 4 milhões) e da Alemanha (3,7 milhões de euros).
Segundo o portal New Atlas, o protótipo deverá ser lançado na Califórnia até o final de 2026. Ele terá um potencial energético de 0,5 MW e ficará submerso a 750 metros de profundidade.